segunda-feira, fevereiro 25

UM CADÁVER NA COZINHA - CAPÍTULO 32


ADENTRANDO O SUBTERRÂNO

Reabastecido com um novo copo de suco de melancia fornecido por Melinda, esposa de Heitor, Durval ouviu a história sentado ao lado do gato branco no sofá da sala do ex-capitão do exército.
                  — Nós não tínhamos ideia de que aquele prédio onde ficavam os laboratórios pudesse ser tão grande. Por fora parecia um edifício comum de três andares, mas logo que você entrava, percebia que não era uma construção normal. No saguão, quatro soldados montavam guarda, dois logo na entrada e dois no fundo, cada um ao lado de duas portas. Atrás de um balcão de metal, um cabo levantou-se e bateu continência assim que entramos.
                  “Estávamos em três, o Aspirante-a-oficial Souza Gouveia, o Segundo Tenente Aguiar de Matos e eu que era Primeiro Tenente na época. Não tínhamos autorização para entrar naquele prédio. Todos havíamos assistido à palestra sobre códigos de segurança e acesso a áreas não autorizadas. Podíamos muito bem ir presos e perder nossas divisas. Quem sabe até sermos expulsos das Forças Armadas. Mesmo assim, as histórias que contavam sobre o que se passava lá dentro mereciam ser esclarecidas. Decidimos correr o risco.
                  “Me aproximei do balcão e em tom sério e impaciente disse ao cabo que íamos averiguar um problema com os protocolos de comunicação dos computadores do laboratório. O homem me olhou confuso por um momento, depois olhou para baixo e começou a remexer alguns papéis enquanto balbuciou que não havia sido informado de nada sobre protocolos de comunicação dos computadores.
                  “Durval, você bem conhece o meu tom de voz. Quando quero sei falar grosso. Em resumo, o pobre cabo nos deixou passar pela segurança. Depois desse incidente acabaram revendo completamente as normas de entrada e saída em áreas restritas do exército. Hoje em dia eu não teria conseguido entrar naquele prédio.
                  "A porta dupla que o cabo nos indicou dava para um elevador. A cabina era enorme, mais parecia uma sala. Retangular, como de elevadores de hospital para conduzirem as macas, mas aquele era ainda maior, devia ter pelo menos quatro metros por três. Imaginei o que poderiam transportar num elevador tão grande. Logo que entramos, olhei o painel e percebi que havia vários andares subterrâneos. A porta continuava aberta e notei que o cabo e os soldados de guarda nos observavam desconfiados. Apertei o andar mais baixo que encontrei no painel. As portas fecharam e começamos a descer.
                  “Gouveia estava assustado e parecia arrependido de ter entrado na empreitada. No meio da batalha, sempre tem um soldado que se acovarda. Ele disse que seríamos expulsos se descobrissem, que podíamos ir parar na corte marcial. De Matos permanecia mudo, nem piscava. Dava para ver que ambos estavam morrendo de medo. Eu devia ser o único que entendia a gravidade do que poderia estar acontecendo naqueles laboratórios desde que o tal Botelho, seu amigo, começou a frequenta-los. Eu precisava descobrir o que acontecia naquele lugar.
                  "O elevador parou e as portas abriram. Te digo uma coisa, Durval, enquanto eu viver nunca vou esquecer o que vimos".



CONTINUA...


Um Cadáver na Cozinha é um folhetim escrito por José Gaspar e publicado na coluna "Histórias de Mistério" do jornal The Brazilians em Nova York.

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