Enquanto
ela estava morrendo um pensamento engraçado lhe ocorreu. E se contasse a
verdade aos filhos? Bem agora, bem no final. A ideia era tão absurda que riu e
se mexeu na cama. Começou a rir tanto que tossiu. Acabou por engasgar.
Os dois
filhos que estavam no quarto com ela, saltaram do sofá e correram para perto da
cama. O primeiro era advogado e pegou a escarradeira. O segundo, o caçula, era
psicólogo e tentou detectar algum problema com a agulha do soro.
Matilda
apenas balançou a mão no ar para que entendessem que estava bem, para uma
moribunda, claro. Na condição em que estava não conseguia mais falar. Alias, se
fosse mesmo seguir com a ideia louca de contar a verdade, como de fato faria?
Será que conseguiria escrever?
Afastou
aqueles pensamentos e tentou seguir com a morte.
Deve
ter feito alguma expressão no rosto, pois os filhos acenaram aflitos para
alguém que estava próximo à porta do quarto, que, nesses dias, permanecia
sempre aberta. Ela fechou os olhos. Devia ser Joana, a enfermeira, ou a filha
do meio, a arquiteta. Mas aquilo não era mais negócio dela. Bastava morrer e
só.
Sentiu,
distante, que alguém segurava sua mão. Como morrer em paz com tanta coisa
desviando sua atenção? De leve, abriu os olhos.
Seu
filho caçula estava chorando. Mais essa.
Com
muito esforço ergueu a mão mais uma vez. Gesticulou. Não entenderam. Tentou
apontar para a cômoda e fazer movimentos circulares com a mão. O pigarro se
formava gigante em sua garganta, como um bolo não engolido. O coração palpitava
veloz, batia errático. Mas manteve-se firme. Eles mereciam saber.
-- Ela
quer escrever! -- berrou o mais velho.
Imediatamente
ela tinha uma caneta na mão. A filha segurava um bloco de papel.
Pensou
na frase que escreveria. Seria possível resumir em uma única palavra? Numa
frase curta? Não tinha muito tempo agora.
Pressionar
a caneta contra o papel para que a linha de tinta se formasse foi mais difícil
do que imaginou, mas, com esforço, as palavras estavam se formando. Ela estava
escrevendo, de fato. Diria a verdade. Morreria a seguir e seria uma troca
justa.
Os
olhares dos três filhos estavam fixos nas poucas linhas pretas e trêmulas que
se formavam no papel branco. Era possível ler claramente.
"Sou
o pai de vocês".
E então
ela morreu.
haha
ResponderExcluirQue gran finale!
Um diva das saídas de cena gloriosas. rs
Adorei!Parabéns Gaspar,seu blog é maravilhoso! Abraço.
ResponderExcluirOi Rosa,
ResponderExcluirLegal que gostou.
Obrigado pelo comentario.
Abraco,
Gaspar
Obrigado, Sueli.
ResponderExcluirGrande abraço.
Cari amigo gaspar! Realmente uma história deste mundo! Que final meu amigo! Um forte abraço.
ResponderExcluirValeu pelo comentario. Abracos!
ResponderExcluirParabéns, gostei e fiquei orgulhosa. Afinal, ter um amigo escritor e maravilhoso. Alissar.
ResponderExcluirOi Alissar! Obrigado pelo comentario!
ResponderExcluir